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Explico o porquê de não engrossar a fileira dos "œimortais" piauienses

Minha atitude é de humildade e respeito, ou seja, não atrapalho a vida dos que efetivamente fazem jus à "œimortalidade"

09/12/2018 07:46

Ainda uma vez

O cidadão aproxima-se de mim e, com ensaiada naturalidade, pergunta: “Professor, por que o senhor nunca se interessou por academias?”. Resolvi entrar no jogo: meu irmão, detesto academias, mas, ultimamente, sou obrigado a frequentá-las. Três vezes por semana, faça aulas de Pilates. O moço percebeu a manha, sorriu e me deixou em paz. Mais tarde, fiquei sabendo: era candidato a uma das três vagas existentes na APL. Na verdade, estava fazendo uma sondagem.

Até aqui, nada de extraordinário: com incômoda frequência, me fazem a mesma pergunta: “Por que o senhor não pertence a nenhuma academia?”. Já expliquei uma dezena de vezes, mas creio que não me levam a sério. Prometi a mim mesmo que nunca mais trataria do assunto, mas volto a explicar o porquê de não engrossar a fileira dos “imortais” piauienses.

Por parte: quem se dispõe a concorrer a uma vaga em qualquer academia de letras precisa cumprir alguns pré-requisitos. O primeiro deles: ser autor de uma obra que lhe justifique a pretensão. Um escritor sem obras é um embuste.  Então, para começo de conversa, falta-me justamente a obra. Ao longo da vida, cometi um punhado de poemas circunstanciais e, com alguma regularidade, escrevo crônicas insossas. Convenhamos que é muito pouco para sonhar com a “imortalidade”. Não bastasse isso, não tenho o menor apreço pelo que se convencionou chamar de “vida literária”. Finalmente, embora muitos não acreditem, a minha vaidade cabe em mim. Não transborda.

 Ao contrário do que muitos pensam, ao me recusar a concorrer a  uma vaga em qualquer das nossas  academias,  não estou esnobando-as nem  condenando os que buscam  assento nas cadeiras “imortalizantes”. Minha atitude é de humildade e respeito, ou seja, não atrapalho a vida dos que efetivamente fazem jus à “imortalidade”. Sou apenas um animal morrente...

Por favor, não me incluam na categoria dos antiacadêmicos. Entendo que as academias são instituições que agregam amantes das letras, pensadores, notáveis, gente que aprecia literatura,  cultura,  arte. Quanto a mim – já expliquei tantas vezes – sou apenas um camelô da boa literatura produzida pelos outros. Leio, edito e divulgo textos alheios com o maior prazer.  Cada vez que leio um bom poema, por exemplo, sinto-me um tantinho dono de dele. Como aquele personagem do livro Ardente Paciência, de Antonio Skármeta, acredito piamente que a poesia não é de quem a escreve e sim de quem dela necessita.  Ler é muito melhor do que escrever.

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